quarta-feira, 7 de julho de 2010

A VIRA-LATA MAIS AMADA DO MUNDO.

Quem frequenta a minha casa desde que o Pedro era só um bebê, conhece a Bolinha, uma vira-lata de pelo e olhos cor de mel que depois de cruzar o portão do jardim nunca mais nos abandonou. Quando a adotamos já era adulta, devia ter no mínimo dois anos. O nome foi escolha do Pedro, claro, que ainda nem pronunciava direito as palavras. A gente até que tentou deixá-la à vontade, o portão escancarado, para o caso de um possível arrependimento poder retornar ao antigo lar. Mas, não. Bolinha nunca fez menção de ir embora. Nos acompanhava ao supermercado da esquina, nos espreitando à distância, como agem os seguranças pessoais. E quando o Pedro voltava do fim de semana na casa dos avós, era o carro entrar na garagem e Bolinha dava incontáveis voltas, latindo e saltando sem parar. Era seu jeito de dar boas-vindas ao que considerava seu dono. Não dava trabalho nenhum, pelo menos nos cada vez mais reduzidos períodos em que não estava prenhe. Sim, isso mesmo. A moça não era assim um exemplo de comportamento. Bolinha abandonara a antiga família, mas não um hábito, provavelmente inato à sua raça, de "pular a cerca" com uma frequência assombrosa. Nenhum cachorro da vizinhança passava em branco. E assim, ninhadas e ninhadas de filhinhos iam se acumulando à medida que nossa lista de pais adotivos ia minguando. O tempo passou e quando Bolinha entrou na menopausa, fase em que já não se animava muito com a visita dos pretendentes do bairro onde morávamos, já havíamos cedido para adoção todos os seus filhotes. Não ter ficado com um dos seus inúmeros descendentes tem sido o meu maior arrependimento desde que a nossa Bolinha foi diagnosticada com câncer de mama. Após a descoberta, a saúde dela degringolou. Emagreceu tanto que os ossinhos se revelam debaixo do pelo cor de mel. Volta e meia passa a semana no veterinário tomando soro e tratando a ferida na mama. Uma tristeza que me tem feito refletir sobre como se dão as despedidas de quem amamos, ou como podemos proporcionar dignidade a quem está dizendo adeus para sempre. É doído vê-la assim, mas não tenho coragem nem convencimento suficientes para determinar sua sentença de morte, como muitos me aconselharam. Ela se alimenta bem, não reclama e passa as manhãs e as tardes de sol estendida na grama do jardim. Parece serena mesmo quando a ferida reabre e a levo correndo ao veterinário. Uma noites dessas, insone, me despedi da Bolinha e a agradeci por ter estado comigo, o Pedro e mais recentemente com a Pilar, por tanto tempo. E mais ainda, por me lembrar todos os dias que a vida tem curso inexorável, e por isso mesmo belo, e que não existe nada mais importante do que as pessoas (e animais) que amamos.

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